quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Desconstruindo um artigo científico

RESENHA DE ARTIGO

Nome: Sonia Regina da Silva Petrosink
Data: 23/11/2008


Identificação do Artigo:

FERREIRA, A. S. ; ABREU, M. L. T. DE. Desconstruindo um artigo científico. Revista Brasileira de Zootecnia / Brazilian Journal of Animal Science, v. 36, p. 377-385, 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1516-35982007001000034&script=sci_arttext
Acesso em 30 out 2008.



Resenha crítica

Os autores discorrem sobre a importância da produção do artigo técnico-científico para a construção do conhecimento e a grande responsabilidade do revisor neste difícil trabalho. Eles propõem a desconstrução, ou seja, desestruturação do artigo científico e das regras de elaboração do artigo técnico de uma forma detalhada. Também esclarecem as razões pelas quais as regras de construção de um artigo serem rígidas e internacionalizadas, como explica este trecho extraído do texto, “face ao volume de informações a serem armazenadas, face às diversas línguas e linguagens existentes e ainda face à necessidade de universilazar o conhecimento tornou-se conveniente estabelecer regras rígidas e internacionalizadas para a publicação e expressão do conhecimento”.
Vale destacar que os autores têm muita experiência como revisores de artigos para periódicos de diferentes áreas do conhecimento, inclusive a Revista Brasileira de Zootecnia. Eles contribuem para a melhoria do processo de revisão dos artigos a serem publicados na RBZ e, inclusive neste artigo eles sugerem algumas mudanças na estrutura das publicações desta revista, mas o trabalho deles se estende a outros periódicos também, as orientações são válidas a todos os escritores e pesquisadores que pretendem publicar seus artigos.
Eles ressaltam a importância de se conhecer o método científico e as normas nacionais e internacionais de estruturação do conhecimento e da forma textual, para podermos ter instrumentos para avaliar profundamente um artigo científico, responsabilidade árdua do revisor que no texto é comparado ao trabalho de um consultor. Eles enfatizam que os revisores são conselheiros do editor e que a decisão de publicar, ou não, um artigo, será sempre deste último.
Um aspecto interessante do texto é que antes de analisarem cada parte do artigo científico e desestruturarem o mesmo, os autores nos leva a uma reflexão sobre a construção do conhecimento, através da trilogia da ciência, verdade-evidência-certeza, base em que o cientista nos demonstra os resultados que alcançou com sua pesquisa, desta forma, será mais fácil aos revisores (consultores) não ficarem na ignorância sobre o universo do cientista. Na síntese da trilogia eles afirmam que, “relacionando o trinômio, poder-se-ia concluir dizendo: havendo evidência, isto é, se o objeto se desvelar ou se manifestar com suficiente clareza pode-se afirmar com certeza, ou seja, sem temor de engano, uma verdade.” De uma forma clara eles deslizam sobre estes três temas de uma forma objetiva e, ao mesmo tempo, profunda. Após esta reflexão eles abordam sobre o termo “conhecimento”, através da intuição e do conhecimento discursivo, concluindo que “conhecimento se dá pela razão e a razão precisa realizar abstração e abstrair é isolar, é separar de”, é desta forma que os autores retomam a proposta sobre o debate como desconstruir ou avaliar um artigo técnico-científico.
No tópico “Como avaliar um artigo técnico-científico”, eles sugerem que “para avaliar um artigo, a primeira coisa a se fazer é uma leitura, de certo modo dinâmica, do artigo na íntegra, sem interrupções, para se checar se não há exageros e nem incompatibilidades com a fôrma da revista, para em seguida ou em momento novo, se fazer leituras detalhadas e em partes do que se pretende avaliar”, orientação que, na minha opinião, é válida para qualquer pessoa que pretende interpretar um texto, desde o estudo básico até as especializações de mestrado e doutorado. Retomo mais uma vez a trilogia da ciência com o esclarecimento dos autores sobre as partes de um artigo, “a trilogia verdade - evidência - certeza deve ser apresentada em três momentos diferentes no artigo. A verdade relativa, aquela obtida da relação do pesquisador com o objeto de sua investigação, deve estar expressa na INTRODUÇÃO. A evidência, expressada na forma da interpretação dos resultados e do diálogo com a comunidade científica, deve estar contida na DISCUSSÃO. A certeza deve ser expressa na forma de CONCLUSÃO”.
O artigo discorre ainda, sobre todas as partes de um artigo técnico-científico, não detalharei cada uma delas, mas citarei algumas observações que valem ser abordadas, tais como na introdução, capítulo introdutório, quando os autores declaram quando devemos desconfiar do processo de construção do conhecimento, como segue, se
“1 - os verbos estiverem em tempo presente, 2 - a verdade estiver expressa na idéia de outrem e não dos autores, 3 - a adjetivação predominar, 4 - nele contiverem muita história e poucos conceitos e 5 - o objetivo tiver tautologicamente sido remetido para o trabalho e escapado dos autores”
As observações acima, tornam evidente o conhecimento detalhado que os autores têm sobre o assunto, pelas peculiaridades de cada item. Eles explanam sobre a quantidade de citações que, por vezes, a introdução contém. Mas, enfatizam que o revisor não deve ser impertinente com coisas tolas, mas sim perceber se os autores dos artigos estão, realmente, conscientes sobre o objeto de sua pesquisa em relação ao tema escolhido e a metodologia aplicada.
Após a análise sobre a introdução, os autores orientam sobre a escolha do título do artigo e, em seguida, o capítulo sobre metodologia, parte em que eles detectaram falhas em muitos artigos e, cabe ao revisor checar o método usado para testar as hipóteses e verificar se os autores elaboraram sua tese numa sequência lógica. Eles ainda, nos ajudam a refletir, “a desorganização descritiva é fator decisivo para a recomendação da recusa de uma publicação? A resposta é não, pois compete ao revisor apontá-la e aos autores acatar ou não as sugestões que julgarem relevante”.
No próximo passo eles discorrem sobre avaliação dos resultados e a avaliação do capítulo da discussão, no qual, “compete ao revisor checar se os resultados foram efetivamente discutidos. A discussão é o estabelecimento dos critérios da verdade e por isso muito mais do que comparar resultados, mistér se faz estabelecer a relação deles, de forma analítica, com o que foi verificado por outros em outras condições experimentais”. No tópico “conclusão”, vale ressaltar que devem ser redigidas com o verbo no presente, não se confundir com os resultados e nem ser apresentada de forma hipotética, cabe ao revisor, assim, “se as conclusões não estiverem corretas compete ao revisor corrigi-las e apresenta-las aos autores indicando ao editor que o aceite do artigo para a publicação está condicionado à correção da conclusão”. Quanto a última etapa, a avaliação geral, onde será avaliado o resumo e certos detalhes como, checar se o artigo contém marcas comerciais, o que não é aceitável em artigos científicos, melhor inseri-las nos agradecimentos, como orientam os autores.
Eles também fazem considerações sobre os dados dos autores e afirmam que não é trabalho do revisor checar se as citações bibliográficas estão corretas, esta é tarefa dos funcionários da revista. Mas, é pertinente ao revisor verificar “se os autores cometeram o equívoco de ler com os olhos dos outros, qual seja, de fazerem citação de citação do tipo Fulano de tal (2006) citado por Beltrano de tal (2005). Este tipo de citação é proibido internacionalmente. Em um tempo de globalização da informação não se admite que os autores não consigam recuperar uma informação”.
E, finalmente, eles abordam sobre ética, “desconstruir sim, mas com ética”, alguns revisores faltam com a ética na emissão dos seus pareceres. Os autores dos artigos não devem confundir as orientações sobre melhores procedimentos na redação de um artigo com agressividade. Neste artigo eles enfatizam que antiético é o revisor que não está apto a avaliar determinados temas, é necessário que quando um revisor é convidado a avaliar determinado trabalho ele esteja consciente da sua competência para fazê-lo, como já foi dito, o trabalho de um revisor é árduo.
Ressaltei na análise deste texto alguns pontos relevantes abordados pelos autores e concluo que o artigo esclarece várias dúvidas sobre a estruturação de um artigo científico, em certos momentos, de uma forma muito exigente. Deixo aqui minha reflexão sobre o tema, se queremos desenvolver nosso conhecimento, integrar e colaborar com qualidade, com o universo científico, devemos re-pensar nossos procedimentos, nossas evidências, certezas e verdades.

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